«Os Três Mosqueteiros» de Alexandre Dumas, em Portugal. Do século XIX à atualidade…

Escrito em 09 de abril de 2024

«Os Três Mosqueteiros» de Alexandre Dumas, em Portugal. Do século XIX à atualidade…

Espadas, duelos, aventura, intriga e romance!

Na semana da estreia nacional e do lançamento do livro do filme pela Intelectual Editora,  «Os Três Mosqueteiros: Milady», recordamos o percurso literário deste mítico e intemporal clássico de Alexandre Dumas, com um foco especial no panorama editorial português.

O clássico literário «Os Três Mosqueteiros», de Alexandre Dumas, foi publicado pela primeira vez em formato de folhetim, entre 14 de março a 14 de julho do ano de 1844, no jornal Le Siècle.

Pormenor de ilustração de capa francesa de «Os Três Mosqueteiros». Séc. XIX.

A narrativa da obra literária «Os Três Mosqueteiros» passa-se em 1625. Relata as aventuras do jovem espadachim e intrépido d’Artagnan que, aos dezoito anos, deixa a sua terra natal na Gasconha, e parte para Paris, com o sonho de se alistar no corpo de elite dos guardas do rei, os mosqueteiros.

Chegado à capital, d’Artagnan conhece Athos, Porthos e Aramis, três mosqueteiros que são apelidados de «os três inseparáveis».

Por ironia do destino, o jovem gascão desafia-os, um a um, para um duelo. O confronto nunca se chega a consumar. Os duelos estão proibidos por lei e os rivais dos mosqueteiros, os guardas do cardeal, aparecem no local para impedir o confronto e prender os desordeiros.

Depois de lutarem juntos contra a infame guarda do cardeal, a bravura de d’Artagnan consegue conquistar a amizade e confiança dos mosqueteiros. A partir desse dia, tornam-se inseparáveis e juntos vão viver inúmeras aventuras ao serviço de França.

Alexandre Dumas retrata os mosqueteiros como homens de honra, apaixonados pela vida, de conduta assente nos valores da amizade, fraternidade e entreajuda. O seu espírito de lealdade culmina no famoso grito: «Um por todos, todos por um!» 

Ilustração de Maurice Leloir, séc. XIX.

Edições portuguesas

Depois de alcançar grande sucesso em França, a obra «Os Três Mosqueteiros» de Alexandre Dumas chegou a Portugal muito rapidamente. Foi traduzida para português e publicada no ano de 1845, dividida em 4 volumes, sendo que os restantes três foram editados entre 1846 e 1847. Trata-se de uma tradução livre de José Hermenegildo Correa, com ilustrações em extratexto com 8 gravuras abertas em chapa na Lithografia Francesa, expressamente para esta edição.

No final da obra há uma secção impressa a tinta dourada, que citámos ainda com o português da época: «Lista dos Ilustrissimos e Excelentissimos Senhores Assignantes», correspondendo aos subscritores dos círculos de leitura de Lisboa. Entre eles destacam-se o conde das Antas, o conde Farrobo, Joaquim Laureano Burel, os Granadeiros da Rainha, a Guarda Municipal de Lisboa, entre outros.

 

Primeira edição portuguesa de «Os Três Mosqueteiros», 1845.

Em plena Belle Époque, a Empreza Literária Fluminense publica, em 1889, a edição ilustrada para Portugal e Brasil, em dois volumes de capa dura.

Uma edição posterior, muito possivelmente a primeira ilustrada por um artista nacional, cuja data é incerta mas que a BNP aponta para a década de 20, inclui seis ilustrações em aguarela e tinta da china, da autoria de António José Ramos Ribeiro.

 

Primeira edição ilustrada por um artista nacional: António José Ramos Ribeiro, anos 20.

Em 1929, a Livraria Lello, no Porto, publica uma nova edição em dois volumes, com ilustrações de capa da autoria de Alberto de Souza, notável aguarelista e ilustrador nacional. No primeiro volume, com traços bem portugueses, destaca-se a ilustração de d’Artagnan, enquanto no segundo, o artista optou por figurar a vilã da história, Milady de Winter, também com traços mais portugueses do que franceses. Curiosamente o formato gráfico espelha as edições dos livros dos novos filmes.

Nos anos 60, destacamos a edição da Minerva, dividida em três volumes, com tradução de A. teixeira. A ilustração da capa foi novamente da autoria de António José Ramos Ribeiro, e explora a iconografia clássica e que vive no nosso imaginário – os três mosqueteiros, Athos, Porthos e Aramis, e em segundo plano, o jovem d’Artagnan, prestes a bater-se em duelo. Um apontamento importante e curioso que o leitor mais atento pode observar é o facto das túnicas dos mosqueteiros serem vermelhas e não azuis. Pormenores que, dada a época, não foram escolhidos ao acaso. Como é de conhecimento geral, o vermelho era usado pelos rivais dos mosqueteiros, a guarda do cardeal. Toda a composição cromática nos remete para as cores da bandeira nacional da República Portuguesa.

Edição da Editorial Minerva, em 3 volumes. Lisboa, 1961.

Nos anos seguintes, entre os finais de 60 e 70, surgiram várias edições, incluindo bandas desenhadas e adaptações condensadas.

Na década de 80, a Verbo publicou uma edição direcionada ao público infantojuvenil. As míticas ilustrações do artista português Augusto Trigo ainda hoje estão bem presentes na memória das gerações que cresceram nos anos 80 e 90. Foram elaboradas duas capas, expressivas e coloridas, refletindo claramente o espírito de aventura e de amizade entre os protagonistas.

Impressa em 1999 e publicada no ano 2000,  destacamos também  uma fantástica edição, profusamente ilustrada, com inúmeras notas e informações de contexto histórico-social sobre a época dos mosqueteiros. Trata-se de uma tradução do original, da Dorling Kindersley Limited. A autoria das ilustrações ficou a cargo de Victor Ambrus.

Para os mais novos é sem dúvida uma excelente introdução ao clássico e, embora o texto esteja muito reduzido, é rica em conteúdo pedagógico e iconografia.

Estas são apenas algumas das edições portuguesas de «Os Três Mosqueteiros» de Alexandre Dumas, entre tantas outras, que revelam não apenas a popularidade duradoura desta obra-prima da literatura mundial, mas também as nuances da receção e interpretação do público português ao longo do tempo. Desde a sua primeira tradução para o português até as adaptações mais contemporâneas, estas edições refletem não apenas a evolução do idioma e da cultura, mas também as mudanças nos valores e na sensibilidade do leitor português.

Além disso, ao examinarmos as diferentes traduções e edições, podemos perceber as escolhas editoriais que foram feitas ao longo dos anos, bem como as influências culturais e históricas que moldaram cada uma dessas versões. A riqueza de interpretações e abordagens demonstra a flexibilidade e a vitalidade desta obra clássica, que continua a cativar leitores de todas as idades e nacionalidades.

A nova adaptação infantojuvenil do filme, «Os Três Mosqueteiros: Milady», difere em alguns pontos criativos à original de Alexandre Dumas. A Intelectual Editora tem a honra de abrir uma nova janela para esta história, com uma nova recontextualização, revigorada para as novas gerações do século XXI, garantindo que os valores que nela figuram perdurem por muitos mais anos vindouros.

Em conclusão, é evidente que «Os Três Mosqueteiros» permanece não apenas como um marco na literatura francesa, mas também como um símbolo da imaginação humana e da busca pela aventura, honra e amizade. As suas inúmeras edições em língua portuguesa são testemunhos vivos da sua relevância contínua e do seu poder duradouro de encantar e inspirar gerações.

Francisco Sousa Faria da Silva © 2024

Intelectual Editora © 2024