"Sozinho É Um Péssimo Sítio Para Se Estar" é uma coleção de poesia visceral que explora os cantos mais sombrios e íntimos da experiência humana. Nestes versos perspicazes e emocionantes, a autora mergulha a fundo na solidão, depressão, ansiedade, dor e procura por significado.
Carolina Ribeiro Rodrigues, autora de "Sozinho É Um Péssimo Sítio Para Se Estar" é uma comunicadora multifacetada, com formação em Comunicação e Cultura pela FLUL, mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação pelo ISCTE e pós-graduação em Marketing Digital. Aos 29 anos, conta com passagens pelo jornalismo e experiência em gestão de projetos IT.
A saúde mental é um tema central na sua vida e obra, encontrando nos treinos de Krav Maga e Muay Thai uma válvula de escape e uma fonte de inspiração.
Vive com o namorado e duas gatas em Lisboa.
1. O título do livro é bastante impactante e evocativo. Como surgiu a ideia para este título, e o que pretende transmitir com ele dentro do contexto da obra?
A frase simplesmente surgiu-me na cabeça quando estava a escrever e a pensar sobre o que a solidão representa para mim. "Sozinho é um péssimo sítio para se estar" é a verdade (para mim). Esse sentimento de isolamento, de ficar só com as próprias dores, de começar e terminar sozinho é um dado adquirido da vida. Acabei por usar a frase como ponto de partida sobre como a solidão, por vezes, se sente como um lugar de onde não conseguimos sair, e o peso e a presença desse "sítio" onde ninguém quer, de facto, permanecer. A frase também é profundamente paradoxal para mim uma vez que uma das coisas que mais gosto de fazer é estar sozinha e longe de humanos com as minhas gatas e o meu namorado.
2. Nos seus poemas, explora temas como a solidão, depressão e ansiedade, que muitas vezes são considerados tabu. Como foi o processo de transformar essas emoções intensas em poesia e que impacto teve isso na sua própria jornada emocional?
Escrever sobre a solidão, depressão, trauma, etc, para mim não foi uma catarse romântica de autodescoberta — foi mais como decifrar um mistério de um livro, como intelectualizar as emoções da experiência humana para aprender antes de lidar com elas. Eu comecei a escrever porque, muitas vezes, essas emoções surgem como uma piada de mau gosto da vida: são reais, intensas e, ainda assim, têm um toque absurdo. Pôr isso em palavras, de certa forma, permite-me observar tudo de fora e perceber que a vida humana é só uma tragicomédia existencial. Penso que isso ajuda a aceitar que sentir tudo isto é inevitável, mas também risível. Que experiência humana seria sem alguns quasi-mental breakdowns de vez em quando?
3. A poesia tem um poder único de tocar os leitores de forma profunda. O que gostaria que os leitores sentissem ou descobrissem ao ler “Sozinho É Um Péssimo Sítio Para Se Estar”?
Se este livro conseguir impactar alguém, mesmo que só por uns segundos, já valeu a pena. Como leitora que sou, gosto de livros que me impactem, que me fazem parar para pensar ou sentir alguma coisa, e é exatamente isso que quis trazer aqui. Não espero mudar vidas, mas se estes poemas despertarem alguma reflexão ou fizerem alguém se sentir um pouco menos sozinho, então o objetivo está cumprido.
4. Escrever sobre dor e sofrimento pode ser um processo tanto desafiador quanto transformador. De que forma este livro a ajudou a compreender melhor as suas próprias emoções?
Como boa millennial que sou, tenho uma psicóloga para me ajudar a lidar com pessoas que também deviam fazer terapia e não o fazem. Ela lembra-me constantemente para não tentar dissecar tudo, para não intelectualizar como um coping mechanism. Nem tudo precisa de ser explicado; às vezes uma pessoa é só uma imbecil e ponto final. Escrever ajudou-me, sim, a pensar sobre sobre as coisas e a dar-lhe palavras e ordem. Mas, mais importante, permitiu-me sentir as coisas sem as justificar e sem a necessidade de dar sentido a tudo. Recomendo terapia para todos. 10/10.
5. Quais foram as suas principais influências literárias e poéticas, e como influenciaram o estilo e o tom desta obra de poesia?
Acho que adicionei no livro uma amálgama das influências e gostos que compõem a minha personalidade. Ou seja, vários livros, autores, bandas, filmes, etc, que gosto. Kafka é um dos meus autores preferidos: a ideia de uma vida devorada pela própria mente é um género de familiaridade. Também me inspirei em Sylvia Plath, mas menos pela dor e mais pelo sarcasmo. Poesias que lembram o universo de Tim Burton, com suas criaturas excêntricas e humor sombrio, também marcaram a minha forma de ver as coisas. Bandas como os Korn e os Alice In Chains ensinaram-me bastante sobre a experiência humana. Adicionei uma pitada q.b. de existencialismo e absurdismo, e de repente tinha um livro escrito.